terça-feira, 23 de novembro de 2010

Criador do Banco dos Pobres - Ajuda Humanitária e Negócios

 Por: Débora Basso
 Em seu discurso como ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus propôs uma nova definição, em que “(...) um empreendedor, ao invés de ter apenas uma fonte de motivação, como a maximização de lucro, tem duas (...): maximizar lucro e fazer o bem para as pessoas e o mundo. Cada tipo de motivação levará a um tipo diferente de negócio. Definamos o primeiro como negócio para maximizar lucro, e o segundo como negócio social.” (Yunus, 2006)

  Na década de 70, buscando reduzir a pobreza em Bangladesh, Muhammad Yunus fundou o Grameen Bank, primeiro banco do mundo a conceder crédito produtivo em valores muito pequenos para pessoas pobres. Com apenas 1% de inadimplência e réplicas em todos os continentes, o “banqueiro dos pobres” conseguiu provar que emprestar dinheiro para pessoas de baixa renda poderia ser um negócio rentável. Para Yunus, o Grameen Bank foi apenas o começo de uma jornada, pois ele segue criando várias organizações no campo que ele batizou de “negócios sociais”.

  Também contribuiram para a criação desse conceito C.K. Prahalad e Stuart Hart (Prahalad, Hart, 2002), chamando a atenção para o potencial representado pela base da pirâmide econômica no mercado consumidor. Esses economistas observaram que as empresas tradicionalmente vendem para consumidores com poder aquisitivo médio ou alto; há, no entanto, bilhões de pessoas que ganham menos de U$ 2 por dia e que também demandam produtos e serviços no seu dia a dia, aos quais normalmente não têm acesso.

  Negócios Sociais surgem, portanto, quando se unem componentes tradicionalmente vistos como pertencentes a setores diferentes: mecanismos de mercado e redução da pobreza. A Artemísia, organização que fomenta o desenvolvimento de negócios sociais no Brasil, identifica três formas por meio das quais esses negócios podem gerar impacto.

  A primeira delas é fornecer produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida por preços acessíveis, atendendo princinecessidades básicas como saúde, educação e moradia, O Aravind Hospital, por exemplo, conseguiu reduzir o custo de cirurgias oftalmológicas em 90%, tornando-as acessíveis para toda a população da Índia e reduzindo a cegueira no país. A segunda forma de gerar impacto é aumentar a produtividade de micro empreendedores, como é o caso, por exemplo, do sistema de irrigação manual desenvolvido pela KickStart, que melhora a produção de fazendeiros em diversos países da África. Por fim, também é possível beneficiar a população pobre por incluí-la na cadeia de produção, o que muitas vezes é feito sob princípios de comércio justo. É o caso da Solidarium, que conecta pequenos produtores brasileiros a grandes redes varejistas, aumentando suas vendas e renda.

  Vale ressaltar, no entanto, que “negócio social” é um termo recente, que carece de consenso quanto à sua definição. Os temos empresa social e negócio inclusivo também são utilizados, como sinônimos ou conceitos semelhantes a negócios sociais. O único consenso talvez seja o de que muita inovação ainda é necessária para atingir, com modelos de negócio eficientes, o objetivo de erradicar a pobreza no mundo.

 Débora Basso é Analista do Centro de Formações da Artemisia.

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